domingo, 26 de junho de 2011

Ausência é a não presença de alguém que um dia já esteve presente. Solidão é a ante sala disso.

Tenho a mania de organizar gavetas quanto estou em casa. Na tarefa de arrumar as gavetas, faço uma ponte com minha vida. O exercício serve para ver as coisas em minha vida que também carecem de arrumação. Aquelas coisas que estão em gavetas erradas, ou que já estão velhas por lá e no exato momento somente ocupam espaço.
Aprendi isso com meu avô, ele sempre me falava que antes de organizar  o mundo, eu tinha que organizar meu guarda roupa.
Hoje me lancei nesse exercício pedagógico e também espiritual. A bagunça das gavetas serve de metáfora para trazer minha vida mais próxima a meus olhos e assim a enxerga lá com calma.
Porem algo foi diferente. No fundo da gaveta encontrei um pedaço de papel carinhosamente dobrado. Não aparentava que estava perdido ou largado, mas sim que carinhosamente foi “esquecido” ali. A pessoa que ali o deixou, sabia que no momento certo eu o iria encontrar.
Delicadamente peguei o papel. O abri e meus olhos descansaram sob a delicadeza de cada traço, de cada letra, de cada cor. Aquele papel estava me relevando uma verdade que há tempos venho fugindo.
Era um papel simples com cores raras.
O papel continha um recado. O recado era curto, mas as lagrimas foram longas.
O bilhete era todo mergulhado em desenhos. Na parte superior do papel tinha nuvens em um azul forte, sendo vencidas por um sol em tom de amarelo ouro, já um pouco desbotado por conta do tempo. Na parte inferior do papel, um desenho de duas pessoas caminhando por um jardim.
As ilustrações simples do papel já conseguiram tocar as raridades deixadas em meu coração. Aquele pedaço de papel trouxe despertou em mim coisas que antes estavam veladas em algum canto de meu coração.
No centro do papel a frase que antes mesmo de ver, meus olhos já haviam lido.
Escrito com lápis de cor verde, os traços diziam assim: “O amor não nasceu para ser justificado, mas sim para ser vivido”.
Ao terminar de ler aquelas palavras, parecia que o tempo havia parado. O coração bateu na mesma sintonia que a saudade e as lagrimas corriam na mesma velocidade que o desejo de voltar.
De fato o amor não nasceu para ser justificado, porem sua ausência também não carece de justificativa. Por alguns minutos fiquei ali parado, revivendo e relembrando a cena de quando aquele simples bilhete foi escrito.
Lembrei que na época estávamos a discutir a diferença entre solidão e ausência.
Depois de muitas horas discutindo não conseguimos chegar a uma conclusão lógica e nem tão pouco poética.
Pois bem, agora ali de frente aquele simples papel e totalmente refém dele, encontrei a conclusão de nossa discussão muito mais poética do que qualquer outra coisa.
Ausência é a não presença de alguém que um dia já esteve presente. Solidão é a ante sala disso. Solidão é coração que nunca foi visitado. Ausência é coração que sofre de saudade.
Neste momento que sou refém desse papel que aqui você deixou, tenho a nítida certeza que sofre muito mais um coração com a  dor da ausência do que um coração que se encontra na solidão!