sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Eloá....

Um namoro, um sequestro, uma morte......
Restou uma lição????

Por Douglas Felliphe
Algumas semanas após o falecimento e sepultamento da jovem Eloá, me sinto um pouco mais a vontade para escrever algumas linhas sobre o caso.

A vida, com suas dores e fatalidades, por vezes nos tira do eixo do cotidiano, apresenta suas surpresas que, como diz o próprio nome, não esperamos, e não esperando, nunca sabemos como reagir.

Em um domingo, a mãe almoça com a filha. Juntas, tiram os pratos da mesa e passeiam pela vida através de recordações, relembradas ali, na cozinha da casa, enquanto uma vai lavando a louça e a outra guardando os pratos.

No dia seguinte, a mãe é impedida de entrar em sua própria casa. A filha, que horas atrás sorria de felicidade, nesse momento chora tendo o mesmo território da cozinha, que antes era palco de risadas, e agora dá lugar a seu cativeiro sob a mira de uma arma.

A vida e suas surpresas. A vida e seus ensinamentos.

Esse texto não tem como objetivo fazer nenhuma análise sobre o caso Eloá. A única intenção é tentar ler as entrelinhas dessa fatalidade para observar além de uma ausência, de uma saudade, e responder a questão: o que mais Eloá nos deixa?

Muitas vezes a vida humana imita a natureza.

Uma semente para que se transforme em uma bela e frondosa árvore precisa passar pelo movimento doloroso da morte para que depois possa oferecer sua sombra e seus frutos.

Lanço-me no desafio de enxergar as coisas assim. Prefiro ver que Eloá não deixou apenas uma lembrança e saudades, mas que sim, deixou um desafio para nós, um desafio que consiste em re-formatar nossas famílias, nossa sociedade, nossa juventude, para que esses possam oferecer sombra fresca, tranqüilidade e bons frutos para nossos filhos.

Prefiro acreditar também que Eloá não foi seqüestrada naquela tarde de segunda feira, mas sim há 3 anos atrás.

Prefiro acreditar que Eloá entrou em um seqüestro profundo e longo ao iniciar seu namoro com apenas 12 anos de idade.

Prefiro acreditar que não somente Eloá era vítima desse seqüestro, mas que eu, você, e nossos filhos também passaram pelo mesmo processo de seqüestro. Passamos ao entregar nossas crianças precocemente aos namorados, aos jogos de vídeo-game, ás comunidades inférteis de Orkut, a conversas intermináveis em MSN, a amizades contaminadas.

Lindemberg Alves representa apenas uma realidade. A realidade de uma sociedade que a cada dia mais intensifica seu processo de seqüestro de nossas crianças, de nossos jovens.

Uma sociedade que seqüestra o tempo de nossas crianças, o direito de brincarem com seus “carrinhos” e “bonecas” e os coloca em cativeiros dentro das lan houses.

Uma sociedade que seqüestra o tempo de nossas adolescentes de simplesmente serem adolescentes, as colocando em cativeiros de relacionamentos inférteis.

Uma sociedade que seqüestra de nossas crianças e adolescentes a liberdade de serem adolescentes e crianças, os colocando em cativeiros do mundo adulto.

Não permitem nossas crianças de serem crianças, as querem adultas, tecendo relações adultas.

Porém, vale ressaltar que eu e você também somos esses seqüestradores.

Somos seqüestradores todas as vezes que, ao invés de colocarmos nossos filhos em nosso colo para aprenderem a ternura de um seio familiar, os colocamos no colo de seus namorados.

Somos seqüestradores todas as vezes que ao invés de sentarmos com nossa família para uma conversa e uma partilha, preferimos sentar em frente à TV e ver a ficção de uma novela.


Desta forma, termino esse texto pedindo a libertação de tantos e tantos que hoje estão seqüestrados, mas também meu pedido de desculpas a todos, pois também sou seqüestrador!